segunda-feira, 19 de março de 2007

Feitiço do Tempo – Aprendendo a viver carpe diem

Feitiço do Tempo, com Bill Murray e Andie MacDowell, é um dos meus filmes favoritos. Cada vez que eu assisto tenho novos insights sobre a filosofia carpe diem.

No filme, Bill Murray interpreta um repórter de meteorologia que parece não gostar muito do trabalho que faz. Ele recebe pela quinta vez a “missão” de cobrir o evento do “dia da marmota” (Groundhog Day). Uma nevasca, porém, o deixa preso na cidade. O mesmo dia passa a se repetir constantemente. Essse tema já foi explorado diversas vezes pelo cinema e a moral da estória gira em geralmente em torno da mudança de atitude do protagonista – enquanto ele não adotar uma atitude positiva, fazendo “as coisas certas”, a vida não continua.

As pessoas me escrevem e me perguntam o que é afinal viver carpe diem? É viver a vida como se hoje fosse o último dia, fazendo loucuras irresponsáveis? É jogar tudo pro alto e começar a fazer só o que você tem vontade? A minha resposta geralmente inclui a indicação deste filme, pois na minha visão, Bill Murray só conseguiu “passar de dia” quando finalmente viveu aquele dia "carpe diem". E eu peço pra que as pessoas que querem entender melhor o que é carpe diem assistirem este filme, pois a idéia que se tem geralmente é muito equivocada. A palavra carpe diem está associada com aproveitar, e aproveitar na visão da maioria das pessoas está relacionada a lazer, a esquecer das responsabilidades e viver como se hoje fosse o último dia, geralmente do ponto de vista do entretenimento e das emoções.

Bom, eu penso o seguinte: hoje não é o último dia da minha vida (espero que não!), amanhã também não será e assim por diante. Se eu viver hoje como se fosse o último dia, não estarei contruindo o futuro e certamente amanhã eu estarei insatisfeito, desejando voltar ao passado e ter feito o que eu deveria e não desperdiçado meu tempo irresponsavelmente. Como já tinha dito num post anterior, eu concordo com Fran Christy quando ela diz que a melhor interpretação para carpe diem seja fazer valer a pena. Se você assistir o filme, verá que no dia em que tudo dá certo é o dia em que ele faz com que tudo valesse a pena, não só pra ele, mas pra toda a cidade, desde as pequenas coisas. Cada vez que eu assisto o filme fico mais motivado a refletir sobre cada ação e escolha como se eu já tivesse passado por aquilo antes, se a sensação é de que o que eu estou fazendo é só uma repetição inútil, eu não faço, procuro o sentido nas ações, quero dedicar o meu tempo no que vale a pena, não em coisas inúteis que vão ficar perdidas e esquecidas no meu passado.

Bill Murray passa parte dos seus dias repetitivos “vivendo a vida adoidado”, pois pensa que se está preso naquela situação, então o jeito é aproveitar. Podemos fazer uma analogia com pessoas que acham que a vida é para ser aproveitada desta forma, com o máximo de diversão e o mínimo de responsabilidade. Fico irado quando estas pessoas dizem que estão vivendo a vida carpe diem. Se divertir faz parte, claro da filosofia de aproveitar o dia, mas se a diversão não valer pena, qual o sentido? Acaba sendo apenas perda de tempo quando você pensar sobre aquele momento no futuro, enquanto isso a vida vai te levando sem te consultar pra lugares onde pode ser que você não deseje estar.

Durante um tempo fui visitar minha tia-avó num retiro para idosos e eu acaba passando horas conversando com os velhinhos. A maioria se arrependia demais do tempo perdido no passado quando achavam que estavam “aproveitando a vida”, enquanto lutavam para mudar um presente da qual não se sentiam satisfeitos – a vida os tinha levado para lugares indesejáveis. Era triste de ver que as razões de seus arrependimentos estavam na falta de ação construtiva, eles não construíram o futuro que haviam sonhado na juventude, na verdade, eles viveram sem construir nada. Alguns não se importavam, só queriam "morrer em paz", outros lamentavam amargamente terem vivido uma vida "inercial" - trabalho - família - lazer. Ao chegar no final da vida eles puderam olhar a caminhada como um todo e ver onde todo o precioso tempo foi perdido.

Voltando ao filme, uma boa parte da mudança feita pelo personagem que o permite sair da prisão do tempo e contiuar a vida diz respeito aos relacionamentos. Ele começa o filme com uma personalidade arrogante e mesquinha e termina carismático e caloroso com todos. Pessoas com doenças fatais, que sabem que vão morrer em pouco tempo, dão prioridade para o acerto de contas com pessoas em suas vidas – parece que a coisa mais importante na vida são os relacionamentos que temos, até porque quando formos embora, somente sobreviveremos na memória daqueles que nos amaram. Se você entende e concorda com isso, porque esperar pra dizer a todas as pessoas que são importantes na sua vida o quanto você se importa com elas? Um jantar com velhos amigos é diversão e ao mesmo tempo viver carpe diem, são relacionamentos que estão sendo cultivados. Pequenas oportunidades de fazer a vida valer a pena podem ser encontradas em coisas simples como um jantar, ou mesmo um mero telefonema, um cartão virtual ou email. Reatar um relacionamento quebrado é muito mais difícil do que simplemente cultivá-lo, mas se você acha que é importante, se isto o machuca de alguma forma, o que você está esperando para resolver o problema?

Se você ainda não assistiu este filme, corra até a locadora e assista. Esqueça a comédia, ignore a fantasia, veja o filme nas entrelinhas, procure entender a moral da estória e faça um paralelo com a sua própria vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Wilson, Eu adoro esse filme! Já assisti várias vezes, mas nunca o tinha visto por esse ângulo. Vou alugar de novo e assistir do ponto de vista "carpe diem"!

Andreza disse...

Muito Grata pela dica!
Andreza